terça-feira, 12 de julho de 2011

Sinto falta


Sinto tanto a falta de tantas coisas. Sinto falta da minha vó mais perto de mim, me ajudando, me escutando, me entendendo. Não existe ninguém que me escute tanto que nem ela. Que falta que ela faz em tudo, mas preciso morar aqui e ela lá. Sinto falta do meu pai, mesmo a gente nunca ter sido tão próximos, mas eu sabia que pelo menos ele estava ao lado da minha mãe. Hoje ele mora em outra cidade, longe de mim, da minha irmã e da minha mãe. E os poucos momentos que passo com ele, domingo a tarde, me fazem ver o quanto ele faz falta para todo mundo. Dói. Sinto falta da minha infância cheia de descobertas, cheia de lugares novos para morar, cheia de amiguinhos, cheia de despreocupação. Era tão bom. Passou. Sinto falta das minhas amigas do ensino médio que me aguentaram por três bons, maravilhosos, felizes anos. Elas eram lindas de todas as formas, e a gente chorava juntas, ria juntas, odiava juntas. E o tempo passou e elas estão cada uma para um canto diferente, mas a gente se fala, só se fala. Não, não morreu a amizade, mas sinto falta do abraço delas, do apoio delas, sinto falta delas saberem me dar opinião sobre o que eu tenho que fazer, porque elas sabem o que eu já fiz e senti. Sinto falta dos meninos. Eles eram tão engraçados, tão companheiros, tão intensos, tão amigos. Hoje não tenho mais tantos amigos e faz falta ter uma opinião masculina em quase tudo que faço na vida. Eu sempre pedia opinião para eles e o fato de tudo ser tão mais simples para eles, me fazia pegar um pouco dessa simplicidade e muito da minha complicação para chegar em uma decisão quase mediana. Onde vocês estão, meus meninos? Sinto falta de quando eu namorava um menino e tudo era bom, sua mãe, sua irmã, sua família, ele. Como era bom passar horas conversando, assistindo filmes, jogando no computador, falando sobre tudo e nada. E essa falta não vai passar e nem vai voltar, porque ambos mudaram, mas para um lado do que pro outro, mas não existe nenhum dos dois para voltar a ser o que era. Que pena. Agora estou sentindo uma falta que vai passar, mas que está doendo quase que insuportavelmente, que é falta dela, da minha pequena. Que falta que ela faz, que dor que sinto de não poder falar com ela todos os dias, que dor não poder saber como ela está toda hora, que dor não ter certeza de nada. Passa logo, volta logo. Sinto falta dos meus cachorros que morreram, da Filó, da Batatinha, da Tadinha, da Pretinha e dos que não morreram, mas ou sumiram ou estão longe, da Leca, da Laila, do Lucky. Animais de estimação são a companhia mais fiel que temos. Eles nos escutam, mesmo com aquele assunto chato, eles fazem uma festa para você quando chega (os únicos que fazem isso) e eles sentem tudo o que a gente sente. Eu os amo. Pra sempre. E se sentir falta faz doer, faz pensarmos que poderíamos ter aproveitado mais, a falta faz a gente ver que foi feliz por muito tempo, que fizemos as coisas certas em alguns momentos e que foi bom de verdade, porque nada que foi ruim faz falta. Nada. E guardo cada falta dessa em mim, no meu coração, na minha memória. Cada falta dessa fala um pouco de mim e muito do que eu sou capaz de fazer. Nada vai substituir cada momento, cada pessoa, cada sensação. Apenas acontecem outras coisas, aparecem outras pessoas, fazemos outras maravilhas e que também vão virar falta um dia. Que seja verdade tudo que pensei, que seja eterno tudo o que foi bom, que eu continue acertando, que eu continue sentindo falta para aprender mais sobre mim mesma.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O que dele em mim ficou


Quando nos conhecemos eu era uma adolescente cheia de sonhos, cheia de complicações sentimentais com relação a mim e aos outros. Naturalmente rebelde. Via a vida como se fosse curta, pouca, rápida. Queria viver tudo de uma vez, tudo rápido, queria passar pelas etapas com intensidade e com uma certa velocidade absurda. Você chegou e tentou me acalmar sem querer. Você e sua tranquilidade absurda, sua compreensão tamanha, seu entendimento acerca de mim que me fizeram respirar com mais calma, mais sutil. Era um encontro de uma brisa com um tornado. Diferentes em tudo e em todos os sentidos. Não brigávamos. Eu brigava. Não nos distanciávamos. Eu sumia. Nos entendíamos. Eu não me entendia. Foram cinco meses de aprendizado para os dois. Você que era acostumado com meninas mais velhas, com maturidade, encontrou uma menina cheia de defeitos, cheia de querer. Se ele me entendeu? Já disse. Ele me entendeu. E eu acho que foi por esse entendimento que aprendi a entender os outros, aprendi a dar valor nos outros, mesmo que em um certo momento eu não tenha dado o valor devido a ele e a nós, mas depois de um tempo eu aprendi isso. Guardo. Guardo tudo dentro de mim, dentro da razão e da emoção. E hoje me pego pensando se tem volta, se eu fiz muita coisa errada, se eu dei o passo errado, se nos gostamos ainda, se ele pensa em mim do jeito que eu penso nele. E vejo que apesar de não ter essas respostas eu tenho algumas certezas que me fazem ficar tranquila e certa de que o que aconteceu serviu para eu aprender, para ele aprender, para a gente se amar, para a gente crescer. Se dará certo de novo um dia, não sei. Se der que seja melhor, que seja com calma, que seja com mais amor ainda, que seja na hora certa. De tudo que ele foi e representa para mim só posso traduzir em algumas palavras: ele é um exemplo de homem. Com seus defeitos, claro, mas com suas qualidade absurdamente lindas e encantadoras. Preciso agradecer a ele, e agradeço sempre que posso, e a Deus por tudo que ele fez e faz por mim, por ele ter surgido na minha vida e ter me mostrado que existe sim sentimento entre duas pessoas e amar não é pecado e você não é menor por isso, nem maior, você é só humano. Assim, concluo que ele foi e é especial para mim. E me sinto protegida só de saber que ele está ali, em algum e qualquer lugar. Porque eu sei, ele não vai fugir de mim e nem eu dele. Eu estou aqui pra quando ele precisar e eu sei que posso contar com ele. Ele é verdadeiro, ele é meu cúmplice, ele me escuta, ele me entende, ele me respeita. Ele não foi, ele é.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Culpa do frio


E esse frio que nos aproxima, que nos prende um ao outro, que faz com tenhamos essa saudade e essa vontade de ver o outro que chega a doer mais que um vento gelado no rosto. Maio, que temos os dois lados da nossa moeda, distância e encontro, e estamos na fase "quero te ver" e eu rezo e peço por favor que não tenha o tão acostumado "fique longe de mim". Não quero mais entender o porque disso, não quero me entender mais, não quero te entender. Não quero. E eu não quero rotular tudo, não quero sofrer, não quero dizer adeus para uma pessoa que eu sei que nunca vai me deixar e eu nunca vou deixar ela. E não, não é amor. E também não sei o que é e eu já disse que não quero saber. Aprendi com a nossa história que tudo na gente é assim mesmo, é meio torto, meio sem explicação, meio sem lógica, meio frio. E é assim que a gente se entende não se entendendo. Entendeu? Não? Não precisa. Apenas sinta. Nesses tempos de frio é melhor só sentir mesmo, só deixar acontecer, só nos aproximar, não pensar em fazer nada porque dá uma preguiça danada ter que sair do quentinho do cobertor, do quente dele e ter que perguntar, brigar, falar. Culpa do frio de nos querermos. E como é bom poder colocar a culpa em alguma coisa para não ter que ficar dando explicações que geram confusão. É o frio. Tudo culpa dele. E corre que o meu pé está esfriando.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Capítulo 3 - Conclusão?


Então amadurecemos a nossa amizade, solidificamos o sentimento, entendemos as dificuldades que passamos e aceitamos que assim foi melhor. E hoje vejo que não viveria tão bem se você não estivesse ao meu lado me apoiando, me puxando a orelha, me mandando calar a boca, me abraçando, me entendendo. Você me entende e isso é essencial para se ter uma amizade. Entender o outro sem deixar de ver as qualidade e os defeitos tudo junto, tudo na pessoa. Pois, afinal, somos isso: qualidades e defeitos tudo junto. E a você, minha amiga, quero dizer que somos feitas uma para a outra e eu te amo do jeito que você é. Aceitar tudo que aceitamos, deixar de lado tudo que deixamos, concluir que vai ser assim pra sempre (e que bom) fez com que chegássemos nesse estágio de: a conclusão não existirá. Não. Não vai acabar. Pode a amizade se dissolver um dia por conta de motivos que nem sei quais, mas o sentimento de respeito, de admiração, de carinho não morrerá. Respeito. Eu tenho respeito por você e isso é fundamental. E nesses capítulos que se seguiram eu só quis demonstrar a você todo o meu amor, toda o meu reconhecimento do que você significa para mim, do que você representa para mim. Como você mesma disse esses dias: não ex cunhada, mas sim minha melhor amiga. Obrigada por tudo e sempre. Estarei ao seu lado sempre. Te amarei sempre. Te respeitarei sempre. Foi e é assim a nossa história. Conclusão não. Continuidade.

sábado, 7 de maio de 2011

Capítulo 2 - Desenvolvimento


Conquistamos a amizade uma da outra. Porém, com ela veio muitas coisas ruins. Não coisas que fizemos, mas o que as pessoas fizeram para tentar nos separar. Nos afastamos para evitar mais brigas. Nos distanciamos fisicamente para evitar comentários. Mas meu coração sempre esteve ao lado do seu. Sempre. Descobrimos que mesmo com todas as adversidades que existiam, tudo era muito pequeno perto de tudo que éramos uma para a outra. Se brigamos algumas vezes? Claro. E como. Discutimos, xingamos, ficamos sem nos falar, mas nada do coração, sabe? Sabe aquela raiva que passa depois de um segundo? Sempre foi assim. Chegou um momento da nossa amizade que, meio naturalmente e meio esforço, não nos distanciamos mais. Lembro da época, foi em Julho de 2010. Sim. Demorou. Demorou muito. Desde esse inverno, que não fez frio, nunca mais ficamos sem nos falar, sem perguntar se a outra estava bem, sem chorar pra outra no telefone reclamando da mãe que não dá valor no que fazemos, sem gritar de ódio do ex, sem dizer que queríamos passar um final de semana de novo, só agente, fazendo coisas que só a gente gostava, vendo clipes musicais que só a gente via, vendo seriados que só a gente gostava, falando sobre coisas que só a gente entendia, fazendo piadas que só a gente que dava conta de inventar e entender. Singularidade, outra característica nossa. Somos singulares em relação a tudo, a gostos, a sabores, a risada. Somos singulares em relação ao sentido de amizade, ao valor que damos para tal e a importância que isso representa para nós duas. Frieza, ironia, sarcasmo, críticas, adoradoras da moda, antenadas com lançamentos, xingamentos, Harry Potter, Lady Gaga, Katy Perry, Lucky, pijamas, esmaltes, semelhanças. Não somos iguais. Temos diferenças. Você chora, eu grito. Você é morena, eu sou loira. Nossa, agora parando para pensar nas diferenças, sabe que ficou difícil. Somos mais semelhantes que diferentes. Talvez isso nos una tanto. E nesse desenvolvimento da nossa amizade, vimos que era pra ter sido assim. Com todas as dificuldades, todas as brigas, tudo do jeito que foi. 

terça-feira, 3 de maio de 2011

Capítulo 1 - Histórico


Você surgiu na minha vida em razão de outra pessoa. Novinha, tão pequena, tão delicada que eu tinha até medo de encostar. O cabelo mais lindo que tinha visto. O rosto de criança e assim era. As primeiras conversas eu tentei uma aproximação meio ingênua de conversas sobre bonecas, Barbies, roupinhas. Que boba eu. Você tinha tudo isso, mas já não brincava com nada a um tempo. Só havia um cachorro de pelúcia, este existe até hoje, que realmente você não largava e não larga também até hoje. Parti pra outra tentativa de aproximação: brincadeiras. E eu ótima em inventá-las, corri atrás de você em um dia que estávamos sozinhos, eu, você e seu irmão. Pela primeira vez você sorriu, me abraçou, eu te carreguei nos ombros, morremos de medo de um sapo e rimos de novo. Naquele momento eu percebi que iríamos rir sempre e esse seria o nosso assunto principal de todos os dias: fazer a outra sorrir. Mas parece que não era o suficiente ainda pra nossa amizade "decolar". Pensei, bom, tenho que fazer o que ela faz, entender o que ela gosta. E mesmo sem brincar de bonecas, tinha um jogo na internet que você adorava e que eu viciei. Um joguinho de fases que comecei a jogar com você e nós não nos largávamos mais. Dias e dias de chuva com a gente tentando zerar o jogo (como a chuva faz parte da nossa vida, né?). Foi aí, de um simples jogo, que surgiu uma das amizades mais lindas que tive e tenho e quero ter pelo resto da minha vida.

domingo, 1 de maio de 2011

Nós. Só eu. Só você. Acabou

Pego as cartas, as fotos, os presentes, a aliança, o urso, a caixa e me lembro de quando éramos felizes. Lembro que nos amávamos. Lembro que você disse isso. Lembro do juramento de eternidade. Lembro que o ciúme que existia era só para mostrar que nos importávamos um com o outro, porque, realmente, não importava mais ninguém na nossa vida. Lembro que eu podia ficar horas ao seu lado sem dizer nada, sem mexer e você dizia "tá tudo bem, amor?" e eu não dizia nada e você "estou aqui ao seu lado pra tudo", e nesse momento nos entendíamos só pelo olhar. Lembro que existia um plano de nos casarmos e de termos dois filhos, uma menina e um menino. Lembro que não conseguíamos ficar longe um do outro nem por um dia. Vivíamos por nós dois. Esquecíamos o mundo quando estávamos juntos. As promessas, os juramentos, as certezas que tínhamos e passávamos um para o outro eram de verdade. Eram do momento. Eram para o sempre daquele dia, daquela hora, daquele mês. Eu adorava a sua mão, você adorava os meus olhos. Eu odiava o seu futebol na sexta-feira e você odiava que eu ficasse anos conversando com a sua irmã e com a sua mãe. Você dizia que gostava de Doritos e eu amava a Ruffles cebola e salsa. Adorávamos coca-cola. Você tomava cerveja e eu sentia nojo. Era bom estarmos juntos, sozinhos, com nossas maneiras de pensar iguais e diferentes. Porém, nos últimos momentos nossos, e os mais doloridos, você começou a odiar tudo, desmentir tudo, não gostar de nada, não me entender, não me olhar, se distanciar. E eu comecei a pensar: será mesmo que era tudo mentira? Nos afastamos tanto que o término veio quase que naturalmente. Já não sentia mais o mesmo carinho por você e você não suportava mais olhar pra mim. Descobrimos juntos que o conto de fadas existiu e acabou, assim como o nosso amor. E no lugar da compreensão, do respeito, veio a mágoa, a raiva. Choramos. Eu sei que você também chorou depois de um tempo. Sentimos saudade um do outro. Voltamos muitas vezes. Nos encontrávamos sem ninguém saber. Todos juravam que tinha acabado, eu também, mas estávamos sempre ali. Estávamos ali pro último beijo, último abraço, último sono, último suspiro de: fico melhor ao seu lado. E como tudo tem um fim, o fim dos últimos nossos acabou também. E hoje eu sei que o que eu vivi foi de verdade, foi carinho, talvez não amor, mas foi nosso, foi eu e você, foi coração, foi alma, foi corpo, foi o momento que nunca vamos esquecer. Acabou e hoje vemos que tinha que ter sido assim. Não tem volta, não tem mágoas, não tem saudade dolorida, não tem o casal vinte que todos falavam. Agora temos uma vida diferente, com pessoas diferentes, com sentimentos diferentes. Fizemos parte da vida um do outro por muito tempo. E vou estar na sua memória e você na minha pra sempre como o primeiro amor de ambos. Sem dor, resta o fim. O fim de tudo que passou e o começo de outro tipo de vida. Eu e você nunca mais seremos nós, assim como nós não ser mais sinônimo de felicidade. Te guardei, você me guardou. Obrigada e por nada. Nós. Só eu. Só você. Acabou.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Um beijo e um queijo


Não tem jeito. Falar com você, conversar com você, responder você sempre acaba nisso: confusão. E é uma confusão do tamanho de um mês. E que mês. A mãe fica sabendo, a irmã sabe e não fala nada, a tia dá uma opinião, você aumenta e inventa também, eu tento minimizar as coisas, mas não dá. Vira confusão. E que ódio de virar isso. Antes não. Antes eu amava que virasse comentários, conclusões, explicações, medos, beijos, choros. Ah, eu gostava! Hoje não. Nem. Deus me livre. Confusão nesse estado de espírito que estou é quase um incomodo, é um texto. Nesse estado tão bem, confiante, feliz e apaixonada não tem lugar pra confusão, pra brigas, pra dor, pra tudo de novo. Não tem lugar para o passado chato, enjoativo, mesquinho, falso e mentiroso que existiu. Hoje tem lugar para o perdão, para a conversa sem compromisso, para as mensagens engraçadas. Hoje tem lugar para o bom, para o bem, para o amor! E demorou pra chegar nisso. Nossa, como demorou. Achei que nunca iria alcançar esse estado de espírito elevadíssimo. Perdoei, chorei, aceitei, enraiveci pra hoje eu  rir de tudo que aconteceu e falar: era só isso? Ah, que felicidade! Que delícia de morango! Viver é para os fortes que passam por dificuldades e voltam melhores ainda. Sobreviver é para os rancorosos, ardidos, chatos. E para as pessoas que ainda tem alguma coisa a dizer sobre o passado, digo: faz isso não. Deixa ele lá, quieto, no lugar dele, no passado conjugado em todas as pessoas. Se viver fosse fácil, não teria graça. Se perdoar fosse fácil, não haveria tristeza. Se amar fosse fácil, eu teria te amado. Como tudo que veio de você foi difícil, cansei. Prefiro o difícil acessível e que valha a pena. Um beijo e um queijo.

sábado, 9 de abril de 2011

Ela deixou

E ela disse para si mesma mil vezes: não volto, não volto e não volto. E não voltou. Por que? Por causa de seu pai, por causa da falta de tempo, por causa da faculdade? Não. Ela não voltou simplesmente porque não teve vontade e pra que mexer com coisas que não a fazem bem? Deixa quieto. Melhor para todos. E os meses se passaram e ela foi esquecendo a cor do cabelo dele, o cheiro da cidade, a risada da amiga mais próxima, o gosto do feijão da avó e aprendeu a fazer a unha sozinha. E aprendeu a se virar sozinha. Sem ninguém. Sem ajuda. Só pela força e coragem dela. Por que falo em coragem? Porque tem que ter coragem para largar a sua cidade natal, a cidade que te faz bem em julho, mas que no verão te queima e faz você não voltar lá. Tem que ter coragem para assumir o que fez, aguentar as consequencias que nem sempre são boas. E um dia ela para e pensa: o que eu deixei pra trás mesmo? Dor ou tristeza? Amizade ou coleguismo? Perdão ou mais brigas? E a resposta vem na hora: deixei tudo pra trás, deixei todas as opções, todos os desejos, todos os beijos, todas as risadas que talvez aconteceriam ou não. Poucas certezas ela tira disso e são as principais: aprendizado e alívio. Aprendeu a esquecer o que te fazia mal, aprendeu a guardar o que te fazia bem. Deu um alívio tão grande de saber que não precisa ter medo de sair na rua e encontrar pessoas que só baixam a autoestima dela, de ir a uma festa e não pegar "ele" com outra, de não ficar sabendo de nada que antes a deixariam para baixo e a fizesse se achar a "excluída" do convívio. Ela pensa que isso pode acontecer na nova cidade. Pode sim. Só pode. Não é certeza. Até porque tudo o que ela passou na outra cidade a fez pensar na vida e agir na sua vida de outra forma. E esse "pode" ela vai lutar para colocar um "não" antes.