sábado, 9 de abril de 2011

Ela deixou

E ela disse para si mesma mil vezes: não volto, não volto e não volto. E não voltou. Por que? Por causa de seu pai, por causa da falta de tempo, por causa da faculdade? Não. Ela não voltou simplesmente porque não teve vontade e pra que mexer com coisas que não a fazem bem? Deixa quieto. Melhor para todos. E os meses se passaram e ela foi esquecendo a cor do cabelo dele, o cheiro da cidade, a risada da amiga mais próxima, o gosto do feijão da avó e aprendeu a fazer a unha sozinha. E aprendeu a se virar sozinha. Sem ninguém. Sem ajuda. Só pela força e coragem dela. Por que falo em coragem? Porque tem que ter coragem para largar a sua cidade natal, a cidade que te faz bem em julho, mas que no verão te queima e faz você não voltar lá. Tem que ter coragem para assumir o que fez, aguentar as consequencias que nem sempre são boas. E um dia ela para e pensa: o que eu deixei pra trás mesmo? Dor ou tristeza? Amizade ou coleguismo? Perdão ou mais brigas? E a resposta vem na hora: deixei tudo pra trás, deixei todas as opções, todos os desejos, todos os beijos, todas as risadas que talvez aconteceriam ou não. Poucas certezas ela tira disso e são as principais: aprendizado e alívio. Aprendeu a esquecer o que te fazia mal, aprendeu a guardar o que te fazia bem. Deu um alívio tão grande de saber que não precisa ter medo de sair na rua e encontrar pessoas que só baixam a autoestima dela, de ir a uma festa e não pegar "ele" com outra, de não ficar sabendo de nada que antes a deixariam para baixo e a fizesse se achar a "excluída" do convívio. Ela pensa que isso pode acontecer na nova cidade. Pode sim. Só pode. Não é certeza. Até porque tudo o que ela passou na outra cidade a fez pensar na vida e agir na sua vida de outra forma. E esse "pode" ela vai lutar para colocar um "não" antes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário